CORAÇÃO DE GELO

Hoje me tranquei em meu mundo
Fechei os olhos ante à pouca luz
Preguei meu pensamento na cruz
Busquei cada sentimento ao fundo

Avaliei cada um de meus amores
Seus princípios, vivências e finais
Alcancei suas alegrias; suas dores
Que nos levaram aos dias terminais

Teriam sido perjúrios e perfídias
Ou teriam sido entregas tão reais?
Seriam palavras de falsas ousadias
Ou teriam elas sido paixões leais?

Enquanto amam em outros braços
Declamados a mim sem compaixão
Ferem-me a dilacerar em pedaços
Saudades, tristezas, dores e solidão

Mas agora, silêncio da calada noite
Uma vontade me faz tão pequeno
Em meu coração sofrido do açoite
Uma decisão o tornará mais ameno

Não tem o mesmo valor da lágrima
Que derramei por cada uma delas
Nem sei se será sentido em lastima
Ou se ao menos deixarão seqüelas

Quem dera ser um homem de gelo
Esquecer-me desse tolo romantismo
E na definha desse meu frio degelo
Escorrer-me para o fundo do abismo